terça-feira, 22 de dezembro de 2015

ANA JOAQUINA, a 2ª geração das minhas avós cariocas

Ana Joaquina Pinto de Castro, nasceu no Rio de Janeiro em 1781, filha de José Manuel Pinto de Castro e de Rosa Bernarda deJesus Ormonde Pimentel de Mesquita.

Gravura de W.Alexander - Vista do Rio de Janeiro, final do século XVIII

À data do seu nascimento, era Vice Rei, Dom Luís de Vasconcelos, o qual foi responsável por diversas obras importantes para a cidade, nomeadamente o aterro da lagoa do boqueirão, possibilitando a construção do Passeio Público, inaugurado em 1783. Em 1789 foi remodelado o chafariz do largo do Carmo (Chafariz da Pirâmide).


Parada militar no terreiro do Carmo (actual Praça XV)  (c.1789, data da inauguração do chafariz da piramide)

Ainda em 1789, o alferes Joaquim José da Silva Xavier, o “Tiradentes”, foi preso. Permaneceria preso no Rio até à sua execução três anos mais tarde, por enforcamento, virando mártir da causa separatista – o herói da Inconfidência Mineira.
Em 1795, foi criada a freguesia do Engenho Velho.

Apenas com 15 anos, Ana Joaquina casou, no Rio de Janeiro,a 28 de Agosto de 1796, na Igreja do Bom Jesus (freguesia do Santíssimo Sacramento), com Manuel José Ferreira Vilaça, natural do Rio de Janeiro, filho de Joaquim José Ferreira Vilaça e de Maria da Assunção Gomes.

Nos Banhos publicados em 1796, consta:

…Manuel José Ferreira Vilaça, com a idade de 25 anos, filho legítimo de Joaquim José Ferreira Vilaça  e de sua mulher Maria da Assunção, natural e baptizado na freguesia de Nossa Srª da Candelária aos  vinte e um dias do mês de Abril do ano de mil setecentos e setenta e um, morador nesta cidade atrás do Carmo……Ana Joaquina, com a idade de 15 anos, filha legítima de José Manuel Pinto de Castro e de sua mulher Rosa Bernarda de Jesus, natural e baptizada nesta freguesia do Santíssimo Sacramento, moradora nesta cidade do Rio de Janeiro, na Rua de S. Pedro….

A Igreja de São Pedro dos Clérigos, ou Igreja do Príncipe dos Apóstolos fora edificada, entre 1732-1740, na esquina  da Rua de S. Pedro com a Rua Miguel Couto,  pelo bispo D. António Guadalupe para sediar a irmandade dos clérigos. A Rua aberta em 1620, primeiramente chamada de Rua António Vaz Viçoso e depois Rua do Carneiro (devido ao cirurgião António Carneiro que aí morava) após a construção da Igreja, passou a ser conhecida como Rua de São Pedro.
Era nesta rua que morava a avó Ana Joaquina quando casou em 1796, com a idade de 15 anos.
Em 1817, passou a ser, oficialmente, Rua Desembargador Antonio Cardoso, nome que não pegou, permancendo a designação de São Pedro.
Em 1943, a construção da Av.Presidente Vargas transformou a Rua de São Pedro em sua pista lateral direita (lado par), e a Rua General Câmara, em pista lateral esquerda (lado ímpar); os quarteirões entre elas foram demolidos para formar a pista central. Chegaram a pensar em mover a igreja, usando rodízios, mas o custo elevado tornou proibitivo o salvamento; foi demolida em nome do “progresso”.

A Igreja de S. Pedro era uma jóia do barroco carioca, sendo uma das igrejas mais importantes da cidade.
(foto de Marc Ferrez c.1898)
Interior da Igreja de S. Pedro, numa gravura do século XIX; o seu interior foi totalmente decorado por mestre Valentim em talha em estilo Rococó.
Rua de S. Pedro assinalada a tracejado amarelo e avenida Rio Branco a azul; estão também assinaladas a Igreja da Candelária e a Igreja de S. Pedro. Imagem aérea obtida antes da abertura da Av. Presidente Vargas.
Vista após as demolições do casario entre a Rua de S. Pedro, à esquerda, e a Rua General Câmara à direita na foto, vendo-se ao fundo a cúpula da Igreja da Candelária
Espaço deixado vago após as demolições e onde surgiria a Av. Presidente Vargas
Avenida Presidente Vargas na década de 40, estando assinalado o local onde estava erigida a Igreja de S. Pedro dos Clérigos

Manuel José Ferreira Vilaça era Guarda Mor da Alfândega do Rio de Janeiro, assim sendo referido nos registos de baptismo de alguns dos seus filhos.

Manuel José e Ana Joaquina, tiveram nove filhos:
- Manuel, nasceu a 06.07.1801 e foi baptizado a 12.07.1801 (livro 9 bp da Candelária (1800-1809)/f19)

- Porfíria, foi baptizada a 05.03.1803 (livro 9 bp da Candelária (1800-1809)/f61v)

- Catarina de Sena Pinto de Castro Vilaça, que segue (nasceu a 27.05.1804)

- Maria (Maria Madalena Pinto de Castro Vilaça, casou a 05.09.1819 com Miguel Dias (irmão de José Dias Mafra, que casou Catarina de Sena)

- Ana, nasceu a15.08.1809 e foi baptizada a  24.08.1809 (livro 10 bp da Candelária (1809-1819)/f2)

- António, foi baptizado a 26.03.1813, sendo padrinho, o seu tio António José Vilaça (livro 10 de baptismos da Candelária (1809-1819)/f96)

- Rosa, foi baptizada a 27.08.1811 (livro 10 de baptismos da Candelária (1809-1819)/f58)

- Mariana, foi baptizada a 21.05.1815 (livro 10 de baptismos da Candelária (1809-1819)/f156)

- Rita, nasceu no Rio de Janeiro a 22.07.1816, tendo sido baptizada por seu tio paterno, o reverendo Joaquim José Ferreira Vilaça, a 29.07.1816(livro 10 bp da Candelária (1809-1819)/f181)

A data do casamento de sua filha, em 1821, a família do guarda mor Manuel José Ferreira Vilaça, não seria muito diferente da retratada por Debret.

Um burocrata em passeio com a família por Jean- Baptiste Debret (“Voyage pittoresque et historique au Brésil ou
Séjour dún artiste français au Brésil, depuis 1816 jusqu´en 1831”, publicado em Paris 1834-1839)


Cena domestica por Jean Baptiste Debret - 1818

A Ascendência de Manuel José Ferreira Vilaça,

Manuel José Ferreira Vilaça nasceu na freguesia da Candelária no Rio de Janeiro, a 27.05.1771, filho de Joaquim José Ferreira Vilaça, e de Maria da Assunção da Rosa.
§1
Os “Ferreira Vilaça”
(de Stª Cecília de Vilaça, Braga)

O pai de Manuel José Ferreira Vilaça, Joaquim José Ferreira tinha passado ao Brasil, na década de quarenta do século XVIII. Já no Brasil, terá adoptado o toponímico “VILAÇA”, em homenagem à terra que o viu nascer (Stª Cecília de Vilaça, à data freguesia de Barcelos e actualmente de Braga).

Esta era uma prática habitual à época e frequentemente os toponímicos adoptados adquiriam um peso mais importante do que o próprio nome de família.


A consulta dos registos paroquiais de Stª Cecília de Vilaça, permitiu encontrar os pais, avós e bisavós de Joaquim José Ferreira Vilaça


Ascendência de Joaquim José Ferreira Vilaça
1- Gonçalo Ferreira – Foi o mais antigo “Ferreira” que encontrámos; terá nascido no início do século XVII em Stª Cecília de Vilaça. Casou com Maria Gonçalves, também de Stª Cecília de Vilaça.Tiveram Domingos Ferreira, que segue. A data do primeiro casamento de seu filho, em 1671, já ambos tinham falecido.


2- Domingos Ferreira. Casou a primeira vez na freguesia da Sé, em  Braga, a 1.03.1671, com Serafina Pereira.


Registos Paroquiais de Braga, Livro Misto (Sta Maria Maior, Sé, Braga) – 01.03.1671/f111

Casou a segunda vez na freguesia de Stª Maria de Via Todos, de Barcelos, a 17.02.1678, com Joana Gonçalves, filha de Pedro Gonçalves e de Maria Gonçalves, todos da dita freguesia

Registos Paroquiais de Stª Maria de Via Todos, Barcelos; Liv 746 /f98v

Deste casamento nasceu Manuel Ferreira, que segue.

3- Manuel Ferreira Nasceu no lugar de Febros, freguesia de Stª Maria de Via todos, em Barcelos, onde foi baptizado a 05.07.1687.


Registos Paroquiais de Stª Maria de via Todos, Barcelos; Liv 746 /f27v

Casou pela primeira vez com Isabel Francisca.

Casou pela segunda vez, em Stª Cecília de Vilaça, a 23.08.1716, com Catarina Gomes, filha de João Gomes Panasco e Maria Gonçalves.



Deste segundo casamento nasceu Joaquim José Ferreira, que segue.

4- Joaquim José Ferreira Vilaça, nasceu no lugar da Cobrada, freguesia de Stª Cecília de Vilaça, Braga, a 20.03.1725. Foi baptizado a 25.03.1725. terá passado ao Brasil em meados do século XVIII.

Chegada de navio ao porto do Rio de Janeiro no final do século XVIII - terá sido esta a vista que Joaquim José Ferreira admirou ao entrar na baía de Guanabara, ao largo do Rio de Janeiro.
Joaquim José Ferreira Vilaça casou com Maria da Assunção da Rosa (N 509, §2 “Rosa” do Faial), na freguesia da Candelária da cidade do Rio de Janeiro, a 09.01.1763


Livro de casamentos da Freguesia da Nossa senhora da Candelária, Rio de Janeiro - 09.01.1763/ f13
Tiveram:
- Manuel José Ferreira Vilaça, que segue
- Joaquim José Ferreira Vilaça; sacerdote. Baptizou sua sobrinha Rita, filha de Manuel José Ferreira Vilaça e Ana Joaquina Pinto de Castro (Livro de registos de baptismo da Candelária – livro nº 9 (1800 –1809/ f169)



§2
Os “Rosa”
(do Faial, Açores)

1- João da Rosa, nasceu na freguesia dos Cedros, da Ilha do Faial.
João da Rosa casou com Maria Pereira, que nasceu na freguesia dos Flamengos, Ilha do Faial (faleceu na freguesia da Conceição, Horta, Ilha do Faial, a 14.12.1748)
Tiveram:
- António Rosa, que segue

2- António da Rosa, nasceu na freguesia da Conceição da Horta, Ilha do Faial, onde foi baptizado a 11.01.1721, filho de João da Rosa e de Maria Pereira
António da Rosa casou com Inês do Nascimento, (natural da freguesia de N. Srª da Luz, lugar de Flamengos, da Ilha do Faial), filha de Pedro Gomes e de Maria Gomes.
Passaram ao Brasil por volta de 1742/44, pois sua filha Maria da Assunção da Rosa, já nasceu no Rio de Janeiro.

3- Maria da Assunção da Rosa nasceu na freguesia da Candelária na cidade do Rio de Janeiro, a 18.05.1745, (tendo sido baptizada a 27.05.1745), filha de António da Rosa e de Maria Pereira, naturais da Ilha do Faial Açores

Livro de registos de baptismo da Candelária – livro nº 6 (1734/1757 – f169)
“Aos vinte e sete de Maio de mil setecentos e quarenta e cinco, nesta Paroquial baptizei e pús os santos óleos a Maria, filha legítima de António da Rosa, sem ofício e de sua mulher Inês do Nascimento, ambos da Ilha do Faial, ele da freguesia da Conceição e ela da de N. Srª da Luz, lugar dos Flamengos e moradores nesta cidade na Rua de trás do Hospício, neta pela parte paterna de João da Rosa e de sua mulher Maria Pereira e pela parte paterna de Pedro Gomes e Maria Gomes, todos do Faial; Foram padrinhos Martinho Pereira da Silva e Maria de S. José, mulher de Martinho Alvares Pinto. Nasceu aos dezoito do corrente”
O vigário Ignácio Manuel


ROSA BERNARDA, a 1ª geração das minhas avós cariocas



Rio de Janeiro no século XVIII

ROSA BERNARDA DE JESUS ORMONDE PIMENTEL, nasceu no Rio de Janeiro a 7 de Julho de 1748, filha de Manuel Pimentel de Mesquita e de Inácia de Jesus Ormonde.

Seu pai, Manuel Pimentel de Mesquita, nasceu em 1675 em Stª Bárbara na Ilha Terceira, Açores, filho de Manuel Pimentel de Mesquita e de Maria Madalena Romeiro.Serviu á sua custa como soldado no Castelo de S. João Baptista, de 1706 a 1712. Casou pela primeira vez em Stª Bárbara com Isabel Rodrigues da Ressurreição, de quem teve vários filhos. O mais velho dos quais, Manuel Rodrigues Pimentel, veio a ser Arcebispo da Sé de Angra.
Em 1715, foi nomeado Tabelião do público e do Judicial em Angra. Após a morte da sua primeira mulher, passou ao Brasil.

Aos 68 anos, casou, no Rio de Janeiro, na Candelária, a 30.09.1743 (f98v) com Inácia de Jesus Ormonde, também natural da Ilha Terceira, da freguesia de Stª Catarina do Cabo da Praia, filha de António Cardoso e de Catarina Assunção, como consta do respectivo assento de casamento.

Livro de registos de casamento da Candelária/Rio de Janeiro – f98v

Aos trinta de Setembro de mil setecentos e quarenta e três anos, nesta paroquial, em minha presença e das testemunhas abaixo nomeadas, se receberam em matrimónio por palavras do presente, feitas as diligências na forma do sagrado Concílio Tridentino e Constituição, Manuel Pimentel de Mesquita, natural da Ilha Terceira, viúvo que ficou de Isabel Margarida da dita freguesia e morador nesta freguesia na Rua dos Pescadores, com Dona Inácia de Ormonde, natural da freguesia de Stª Catarina do Cabo da Praia da sobredita Ilha, filha legítima de António Cardoso e de sua mulher Dona Catarina da Assunção, moradora nesta freguesia e da mesma rua, como tudo me constou da provisão que me apresentaram do muito Reverendo Juiz dos casamentos o Doutor Henrique Moreira de Carvalho. E por me não constar de impedimento algum e tendo se confessado, lhes assisti e dei as bênçãos, sendo testemunhas Manuel Correia da silva e Domingos Francisco Braga, de que fiz este assento e assinaram comigo.”
O Vigário Inácio Manuel

Rosa Bernarda de Jesus Ormonde Pimentel de Mesquita, foi baptizada na freguesia da Candelária, no Rio de Janeiro a 7 de Julho de 1748, tal como consta no seu assento de baptismo.

Livro de registos de baptismo da Candelária – livro 6; 1734-1757/f257
“Aos dezoito dias de Julho de mil setecentos e quarenta e oito, nesta Paroquial baptizei e pus os Santos Óleos a Rosa, filha legítima de Manuel Pimentel de Mesquita, natural da Ilha Terceira e de sua mulher D. Inácia de Jesus Ormonde, da mesma ilha e moradores nesta freguesia. Neto pela parte paterna de Manuel Pimentel de Mesquita e de Maria Madalena, já falecidos e pela parte materna, de António Cardoso….. e de D. Catarina da Ascenção, todos da dita Ilha. Foram padrinhos João do Couto Pereira e Francisca Rosa de São Boaventura, mulher de Dionísio da Costa. Nasceu aos sete do corrente”
O Vigário Ignácio Manuel

Casou, no Rio de Janeiro, com José Manuel Pinto de Castro, natural de Vila Flor, (Bragança;Portugal), filho de António Pinto de Castro (nascido na freguesia de Sampaio, Vila Flor e aí baptizado a 31.05.1686) e de Catarina Josefa de Morais, neto paterno de Domingos Afonso Lopes e de sua mulher Úrsula Pinto de Castro e neto materno do licenciado António Fernandes de Mesquita e de sua mulher D. Ana Maria Correia de Morais Alcoforado, os quais se receberam em Vila Flor a 20.06.1690.

Terá passado ao Brasil provavelmente como militar pois é referido num registo da Candelária, como Capitão José Manuel Pinto de Castro.

Assinatura de José Pinto de Castro como testemunha num casamento na Candelária no Rio de Janeiro em 1777 (PRQ –RJ; CANDELÁRIA-Livro Casamentos 1764-1782/ f143v (tif 127)


Do casamento de José Manuel Pinto de Castro com Rosa Bernarda de Jesus, nasceu pelo menos uma filha, Ana Joaquina Pinto de Castro.

No registos paroquiais do Rio de Janeiro, encontramos um assento de baptismo de “... Gertrudes, filha de Mariana, preta, escrava de José Pinto de Castro” aos dezasseis dias do mês de Setembro de mil setecentos e oitenta o que atesta a posição social de José Pinto de Castro.